quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Beleza em tamanho plus

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Elas não têm medo da fita métrica ou da balança. Mesmo acima do peso, mantêm autoestima e sensualidade elevadas

Elas estão longe, bem longe, dos padrões de beleza propagados pela mídia. Os números do manequim e do ponteiro da balança superam, e muito, os pertencentes às mulheres apontadas por aí como as mais sensuais do planeta. Mesmo assim, alguns raros exemplares do sexo feminino não têm medo da fita métrica e sabem que seus pneuzinhos podem ser mais sedutores e estonteantes do que as curvas (?) ostentadas pelos ícones de beleza mundial. Num mundo onde a referência de peso diminuiu de maneira cada vez mais drástica, essas mulheres conseguem manter a autoestima e garantem: dá para ser linda e sexy mesmo com as medidas generosamente acima do padrão. Em outras palavras, elas sabem que já exerceram e ainda exercem fascínio sobre muita gente.

No final do século XIII, durante o renascimento, as mulheres rechonchudas eram consideradas sinônimo de beleza e sensualidade. Sim, e faziam o maior sucesso! Musas inspiradoras de grandes artistas como Michelangelo e Leonardo da Vinci, elas possuíam curvas femininas e volumosas, o padrão de beleza da época. Atualmente, porém, a realidade é bem diferente. Modelos lindas e magérrimas, à Gisele Bündchen, são as principais estrelas nas revistas, propagandas, televisão, cinema e semanas de moda. Mas se fisicamente as gordinhas não se identificam com as capas de revista expostas nas bancas, no quesito estilo elas dão um show de atitude fashion – porque ninguém merece viver à mercê de um guarda-roupa repleto de “pretinhos que emagrecem”.

Mas, mesmo diante da possibilidade de apenas serem felizes, muitas mulheres com quilinhos a mais ainda encontram dificuldades para aceitar a própria aparência. Para Wendy Shanker, autora do livro Segredos da gordinha feliz, a gordura não é o real problema. “O problema é ser gorda no século XXI”, diz. De curvas e formas arredondadas, a escritora passou dezesseis anos de sua vida fazendo regime. Hoje, com mais ou menos 100 kg, ela decidiu se assumir e transmitir energia positiva para todas as pessoas. “Vivi alimentando a ideia de que, um dia, acordaria magra e a vida seria maravilhosa. Jogaria fora todas as fotos do tempo em que era gorda e tiraria uma foto nova, magra e de jeans”, conta a autora, que decidiu parar de se pesar com frequência.

Revolucionar a maneira de pensar e passar a enxergar outros pontos positivos no próprio corpo e personalidade é um processo delicado, mas possível, assim como aconteceu com Shanker. O psicólogo e sexólogo Luiz Gonzaga Pinto acredita que o modo como as pessoas enxergam as outras depende daquilo que emana do indivíduo observado. “Eu posso ser modelo para os outros, mesmo não tendo tantos atributos físicos”, explica.

Para ele, a impressão que passamos para os outros está muito além das formas do corpo, mas no olhar, no brilho da pele, no humor. “Às vezes, nem conseguimos definir bem o que atrai no outro”, diz. Segundo o psicólogo, as mulheres, gordinhas ou não, precisam perceber que, assim como elas, os homens observam outros detalhes no sexo oposto, e admiram qualidades como inteligência e simpatia.

Mas nem todas ficam por aí se lamentando. Do lado aposto ao drama de quem se sente discriminado, existe a parcela das pessoas que sabem se virar muito bem com a própria silhueta. Como citado no início do texto, as mulheres dessa turma conseguem evidenciar e fazer bom uso do charme da mulher plus size. A modelo brasileira Flúvia Lacerda é um exemplo. Aos 28 anos, ela é sucesso internacional e fotografa para grifes especializadas em manequins maiores que 44. Descoberta por acaso por uma editora de revista de moda em Nova York, Flúvia é considerada a Gisele Bündchen da moda maior e hoje colhe os louros que o corpo “avantajado” proporciona. “Ter a oportunidade de mostrar que gostar de si mesma é um sentimento absolutamente necessário para qualquer um é o lado mais positivo do que faço”, disse certa vez.

O sucesso de Flúvia em Nova York, cidade onde praticamente todas as agências de modelo possuem departamento especializado em moda plus size, comprova que a beleza da mulher gordinha pode e deve ser valorizada, uma realidade ainda pouco explorada por terras tupiniquins, onde a maior parte das grifes teima em não investir no segmento.

“Costumam dizer que sou boa no que faço porque tenho o tempero do Brasil, uma sensualidade que só as mulheres brasileiras possuem”, enfatiza a modelo nas diversas entrevistas que concede cotidianamente. Em dicas disponibilizadas em revistas, a top lembra que, encontrando a roupa bacana, a maquiagem adequada e abusando dos atributos que possuem, todas as mulheres gordinhas podem ser sensuais e felizes.

Esse é o truque utilizado por Mirelle Cândido de Sousa, 28, que cuida do cabelo e investe tempo aprendendo dicas de beleza, moda e maquiagem em blogs especializados.

Gordinha desde criança, ela já tentou dietas de todos os tipos, até que resolveu assumir as medidas e dar um basta nos padrões estabelecidos pela mídia. “Coloquei na minha cabeça que sou assim e ponto!”, diz. Hoje, a estudante de Direito comprova que, ao aceitar sua própria condição, tornou-se mais atraente e alegre. “Atraio olhares porque me libertei das amarras e neuroses. Estou bem comigo mesma”, conclui. Com 1,59m de altura, Mirelle admite não se pesar há muito tempo. Para sair com a turma, lança mão de truques para valorizar o que tem de melhor. “Uso roupas que evidenciam o colo e a tatuagem.”

Mesmo com pouca altura, a pedagoga Telma Faleiros Carrijo, 29, também aprendeu a usar dos atributos favoráveis do corpo para se sentir mais sensual. Brigando com a balança desde criança, ela chegou a passar por várias dietas, até chegar à conclusão de que é bonita do jeito que é, com quilinhos a mais, distribuídos simetricamente pelas pernas grossas, quadril largo e cintura fina. Filha de pais gordinhos, ela decidiu dispensar especial atenção ao cabelo e rosto, parte do seu corpo que mais chama a atenção por onde passa. “Até já me disseram que eu deveria fazer propaganda de produto de beleza para o rosto”, lembra. Para sair de casa, Telma não dispensa a maquiagem bem-feita e os acessórios chamativos.

No guarda-roupa, a pedagoga mantém peças coloridas e modernas, e muitos vestidos, que evidenciam ombros e pescoço. “Não é porque sou gordinha que não vou usar roupa da moda”, garante. Segundo ela, as amigas mais próximas até pedem dicas de como se vestir bem. O bom senso, no entanto, não pode faltar. “É claro que eu não vou usar um vestido justérrimo, muito menos a barriga de fora. Breguíssimo”, se diverte. Namorando há seis meses, Telma acredita que a mulher que se aceita e passa a gostar de si mesma, tem muito mais chance de ser feliz, além de atrair os olhares das outras pessoas.

A autoestima elevada, aliás, é ingrediente fundamental para tornar qualquer mulher mais bela, sobretudo aquelas que, como as gordinhas, costumam se sentir discriminadas pela ditadura da moda. “Uma mulher bem resolvida e feliz consigo mesma vai se sentir muito mais bonita e sensual”, garante a personal stylist Pollyanna Couto. Segundo ela, a mulher que liberta seu corpo e não fica presa a uma imagem padronizada tem grandes chances de se tornar naturalmente bela. O principal, para Pollyanna, é que as mulheres acima do peso saibam usar peças que valorizem o corpo, tomando cuidado com informações demais nas partes mais avantajadas, como quadril ou busto.

Especializada em moda maior, a empresária Linamara dos Reis Neves sabe bem o que a mulher com curvas avantajadas procura. “A roupa é uma extensão do que somos. Se não nos sentimos bem, tudo fica afetado”, diz. Para ela, o mercado plus size ainda é muito desvalorizado no País, onde a maior parte das lojas insiste em associar o tamanho extra a peças desajeitadas e sem graça. Mais do que ninguém, a empresária convive com mulheres gordinhas e ouve delas anseios e reclamações. “É incrível como elas se sentem lindas quando encontram roupas legais. A compra vira um momento de prazer, e não necessidade, como na maioria das aquisições desse público”, conta. Segundo ela, ao se sentir valorizada e bem vestida, muitas clientes revolucionam o modo de pensar. “Tive uma cliente que deixava de sair com o marido por não encontrar uma peça adequada no guarda-roupa. Hoje, ela é outra pessoa”, comemora.

Em alguns casos, o excesso de peso é encarado de forma tão natural que não incomoda nem influi no comportamento de quem o carrega. Modelo de moda maior há quatro anos e formanda em Veterinária, Karina Junqueira, 23, é um desses exemplos. Com 1,70m de altura, ela carrega curvas avantajadas bem distribuídas em bumbum, quadris e coxas. “Eu me acho muito bonita e atraente”, resume. Para Karina, que sempre foi gordinha, mas nunca deu especial importância ao fato, os quilinhos a mais não interferem na vida social e muito menos nas paqueras. “Saio muito e noto que sou alvo de olhares”, sorri. Para ela, adepta de minissaias e decotes, os atrativos de qualquer pessoa não estão associados ao peso. “Quem não estiver bem, que emagreça. Mas eu acho que a felicidade independe do corpo”, finaliza.

Flávia Guerra
fonte: http://www.dm.com.br/materias/show/t/beleza_em_tamanho_plus

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