segunda-feira, 2 de julho de 2012

Depoimentos dos entrevistados da reportagem "A ascensão da classe GG"

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Cléo Fernandes, Gaby Amarantos, Leandro Hassum e Preta Gil falam sobre saúde, vaidade, preconceito e outros aspectos dessa mudança na forma como os gordinhos se veem e são vistos

Cléo Fernandes (Foto: Stefano Martini/ÉPOCA, Tomás Rangel/ÉPOCA e Sendi Morais/ÉPOCA. Produção: Felipe Monteiro e Jairo Billafranca para Studio Bee Produções)
“Atualmente não passo mais de cinco dias sem receber alguma proposta de trabalho para estrelar campanhas de produtos para pessoas acima do peso. Nem sempre o excesso de peso foi uma vantagem na minha vida. Comecei a engordar aos nove anos, quando desenvolvi uma compulsão alimentar. Sempre fui ansiosa. Descontava na comida essa ansiedade. Nunca sofri bullying na escola, mas sempre alguém me dizia: “Tem um rosto tão bonito, se perdesse alguns quilos...”. De tanto ouvir que precisa emagrecer para ser bonita, acabei me convencendo disso. Aos 12 anos, comecei a sofrer de bulimia (transtorno caracterizado pela prática de provocar vômitos após as refeições). Tinha 68 quilos, um peso normal para minha altura, mas não conseguia enxergar isso. Me olhava no espelho e me achava gorda. Não conseguia me enxergar como eu realmente era. Comecei a achar que não poderia dividir o banco de um ônibus com alguém. Tive depressão. Percebi que precisava de ajuda quando comecei a ter dores no esôfago e refluxo de tanto vomitar. Com a ajuda de um psiquiatra e de remédios para controlar a ansiedade, consegui me curar da bulimia. Mas ainda acreditava que precisava emagrecer para ser bonita. As coisas começaram a mudar quando minha mãe me incentivou a procurar trabalhos como modelo plus size. Num primeiro momento recusei a ideia, mas passei a pesquisar sobre esse universo. Um mundo novo se abriu para mim. Vi que existiam outras meninas como eu, e que eram bonitas com o corpo que tinham. Procurei uma agência. Não demorou para os trabalhos começarem a aparecer. Sou formada em Educação Física, mas deixei a profissão de lado para me dedicar somente aos trabalhos como modelo. Minha vaidade foi aumentando. Descobri que era possível me vestir bem, mesmo com o meu peso. Hoje me aceito do jeito que sou, mas tenho consciência dos riscos que a obesidade traz. Faço exames de sangue periodicamente e exercícios físicos. Até hoje não tive problemas de saúde relacionados com o excesso de peso. O aumento de marcas e de lojas voltadas para o público acima do peso é uma dupla vantagem para mim: além de conseguir mais trabalhos, também usufruo desse novo mercado como consumidora. Entrar em uma loja comum, que não seja especializada em gordinhos, e achar uma blusa bonita e que sirva, pode mudar a vida de uma pessoa. Viver em uma sociedade que não tem espaço para você é muito doloroso”.

Como se vestir bem: Roupas que marcam a cintura valorizam as curvas. Chame a atenção para o colo, com decotes em “V” ou quadrados. As botas de cano alto devem ser larguinhas na batata da perna e, de preferência, de bico fino para alongar.
Trecho da reportagem O triunfo dos gordinhos


Gaby Amarantos (Foto: Stefano Martini/ÉPOCA, Tomás Rangel/ÉPOCA e Sendi Morais/ÉPOCA. Produção: Felipe Monteiro e Jairo Billafranca para Studio Bee Produções)


“Uma vez o agente de uma banda me disse: “Você é talentosa, mas precisa emagrecer. Faça um regime e volte aqui depois”. Tinha 98 quilos e fiz várias dietas malucas. Queria me enquadrar no padrão de beleza que uma vocalista de banda supostamente deveria ter. Passei algumas semanas tomando um cálice de vinagre em jejum. Não perdi peso nenhum e tive uma gastrite. Numa outra vez, fiquei dias sem beber água. Acabei desidratada e desiludida. Fiz uma lipoaspiração sem ter noção do que era o pós-operatório. Quando abri os olhos no dia seguinte, meu corpo inteiro doía. Foi horrível. Pouco tempo depois, a gordura estava de volta. Só a orientação de um endocrinologista e uma reeducação alimentar fizeram efeito. Perdi 35 quilos. Voltei a engordar durante a gravidez do meu filho Davi. Nos últimos três anos perdi 27 quilos, mas a maternidade me fez mudar completamente a relação que tinha com meu corpo. Depois que o Davi nasceu, passei a me aceitar mais. Hoje consigo me achar bonita com os meus 76 quilos. Sigo uma dieta apenas para manter esse peso. Durante a semana, procuro seguir uma alimentação equilibrada e fazer exercícios. A partir de sexta-feira à noite, como o que quiser. Fritura, doce, o que tiver vontade. As mulheres me param na rua para dizer que, graças a mim, agora também se acham bonitas. Há tempos não se via uma mulher com corpo normal fazer sucesso. De alguma forma acho que essas pessoas vêem em mim que para ser alguém não é preciso ser loira, alta e magra”.

Como se vestir bem: Use roupas que valorizem as formas avantajadas. Um jeans justinho para valorizar o bumbum; vestidos soltinhos, mas curtos, para mostrar as pernas grossas. Para quem tem peito grande, os decotes em “V” são ótimos.


Leandro Hassum (Foto: Fotos: Stefano Martini/ÉPOCA, Tomás Rangel/ÉPOCA e Sendi Morais/ÉPOCA. Produção: Felipe Monteiro e Jairo Billafranca para Studio Bee Produções)

“Ser gordo me obrigou a ser simpático e romântico"
Leandro Hassum, humorista do Programa
Os Cara de Pau
“Comecei a engordar aos 12 anos, no início na adolescência. Os colegas de escola não perdoavam a diferença. Não demorou para os apelidos e grosserias começarem a aparecer. No começo, eu reagia com violência. Batia nos meninos. Preferia ser o gordinho que todo mundo tinha medo a ser o gordinho zoado. Com o tempo, desenvolvi traquejo e artimanhas para lidar com os colegas. O humor foi a maneira que encontrei para me defender. Comecei a fazer piada de mim mesmo. Deu certo. Enxergo algumas vantagens no excesso de peso. Ele me fez desenvolver várias características que me ajudam, como a simpatia e o romantismo. É claro que também existe o lado ruim. A dificuldade em se vestir é uma das desvantagens. Sou vaidoso, sempre gostei de estar na moda, mas só consegui me vestir bem quando comecei a ganhar dinheiro suficiente. Hoje posso mandar fazer um terno Ricardo Almeida sob medida, mas antigamente era impossível encontrar roupas bacanas por um preço acessível. O “G” de algumas marcas equivale a um “P”. É ridículo. Achei sensacional a ideia da C&A de colocar a Preta Gil como garota propaganda. Isso é real. Quantas mulheres como a Preta você vê nas ruas? E quantas como a Gisele Bündchen? Já era hora de o mercado atender as pessoas reais. Não tenho nenhum problema de saúde, mas estou fazendo uma dieta. Minha meta é chegar aos 115 quilos. Preciso de agilidade no palco. Se perder um pouco de peso será mais fácil. Estou chegando aos 40. Preciso me cuidar. No início da carreira, ouvi várias vezes que para conseguir papéis era preciso emagrecer. Nunca segui esses conselhos. Cheguei a perder alguns personagens por causa do meu corpo, mas no teatro sempre tem trabalho para todos os biótipos. Resolvi apostar no meu estilo gordinho. Deu certo. Aprendi a conviver com o próprio corpo da maneira que é. Sempre me aceitei assim. Ser gordo nunca foi um grande problema, um sofrimento. Se você sofre por causa disso, emagreça.”

Como se vestir bem: Dê preferência às roupas escuras. Jamais use listas horizontais. Use roupas do tamanho certo. É uma ilusão achar que roupas largas disfarçam o excesso de peso. Ao contrário, elas dão mais volume. O mesmo vale para as barras das calças e as mangas: sempre devem ser do tamanho certo.



Preta Gil (Foto: Fotos: Stefano Martini/ÉPOCA, Tomás Rangel/ÉPOCA e Sendi Morais/ÉPOCA. Produção: Felipe Monteiro e Jairo Billafranca para Studio Bee Produções)

Meu pai e a mulher dele são obcecados por magreza. Sempre me cobraram demais"
Preta Gil, cantora
“Cansei de ser maltratada pelas vendedoras antes de virar cantora. Sempre percebia um olhar preconceituoso. A expressão delas me dizia: “aqui não é o seu lugar”. Em 2008, depois de ter levado um “caixote” no mar de Ipanema, fui fotografada pelos paparazzi. Num programa de TV fui chamada de “baleia” e de “porca”. Entrei na Justiça e ganhei uma indenização de R$ 100 mil. A sentença do juiz foi belíssima. Ele enalteceu as formas fartas da mulher brasileira, em oposição ao padrão das modelos de passarela. Aquela foi a primeira vez que tive problemas reais de autoestima, mas a Justiça me fez renascer. No passado, tomei moderadores de apetite e emagreci 30 quilos. Fiquei flácida e resolvei fazer uma recauchutagem geral: plástica na barriga, lipoaspiração na cintura e silicone para levantar os seios. Foi uma mutilação que hoje vejo como equivocada. Os remédios me deixaram deprimida. Meus problemas estavam em outro lugar, não no corpo. Eu queria ser artista e não tinha coragem de tentar. Quando decidi ser cantora, parei com os moderadores e fiz uma reeducação alimentar. Hoje uso manequim 46 e me sinto bem resolvida. Vou apresentar alguns episódios do programa Superbonita, no canal GNT. Foi uma ótima surpresa saber que nós, gordinhas, estamos incluídas no universo da beleza. Não faço apologia da obesidade. Há limites de saúde que precisam ser respeitados. Estou reduzindo a gordura para equilibrar o colesterol. Paranóica e infeliz não serei nunca mais. Sinto-me bonita e nunca me faltou namorado. A coleção da C&A foi feita a partir de roupas que costumo usar. Gosto de vestido justo, decote e perna de fora. Tem até oncinha, que eu adoro. O mais importante de tudo é ter estilo e atitude. O maior desafio do nosso tempo é não cair na armadilha do padrão. É aceitar e querer ser diferente. Não perco jamais minha vaidade e não acredito, de forma alguma, que alguém de 55 quilos é melhor que eu só porque é magra. Muitas vezes precisei me impor, inclusive na minha família. Meu pai e a mulher dele, Flora, são obcecados por magreza. Vivem de regime, se controlando. Sempre me cobraram demais. Hoje eu corto logo. E agora ainda brinco que não posso emagrecer por questões contratuais”.

Como se vestir bem: Capriche no decote. Colo de gordinha quase sempre é bonito. Vestido do tipo cashequer, tipo envelope, transpassado na cintura, valoriza a silhueta e é ajustado de acordo com cada corpo. Outra boa opção é o vestido kafta, com manga tipo morcego e justo na cintura. E saia curta sempre que for adequado. Sofrer, jamais. Se a roupa estiver apertada, troque por um número maior.

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