quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

+ Viscose, - Trombose

Gostou deste artigo? Então clique no botão ao lado para curti-lo! Aproveite para nos adicionar no Facebook e assinar nosso Feed.

Pura suculência o fim de semana no Shopping Frei Caneca. Foi lá o Fashion Weekend Plus Size, eufemismo de batismo do festival de moda pra gordos. Durante os dois dias de roça coxa, quarenta moças maravilhas, oito super massas, a Solange ‘Né Brinquedo Não’ Couto e o cantor/apresentador Léo Jaime (porque o plano era dar ares mais joviais pra coleção) desfilaram peças de 12 grifes voltadas pra esse nicho de metáforas. É claro que tocou Adele -- e em versões rock’n’roll! --, mas mesmo assim foi divertido.
Sábado, 11/02
Os desfiles estavam marcados pra começar às 15h. Os ingressos eram gratuitos pra todos os players desse mercado – lojistas e varejistas pra gorditas , desde que mostrado o CNPJ. Pro resto dos visitantes o ingresso saía por R$ 50 valendo pelos dois dias. Como bacharel em Jornalismo, meu único trabalho foi ser muito simpático e paciente com o gordo da recepção que usava seus belos dedos esverdeados de unhas imundas pra fazer o credenciamento. Acho que ele estava apodrecendo. Quase ofereci o barbante do meu crachá de torniquete.

Olá, gordelícia!
Cheguei uma hora antes, pra visitar o camarim. A programação do primeiro dia era só de desfiles femininos, então o que se encontra nos bastidores é bem o que se imagina e provavelmente muito parecido com um backstage de alta costura, só que sem comida fácil pra substituir cocaína à rodo – os lanches tinham que ser pedidos pra organização, e vi só uma ou outra comendo maçãs com refrigerante.

Hectarém: se eu fosse um Sheik, ia querer chamar Milk.
Aliás, se você nunca viu uma plus size seminua de bob no cabelo, sentada e aguardando pela vez de ser maquiada enquanto conversa com suas outras amigas plus size, nem venha com aquela groselha de plantar árvore, escrever livro e ter filho. Sua vida ainda tá longe da satisfação plena. Mesmo.

Gorbeleza (todo derivativo de gordo fica engraçado). 
Só que aí começou a chegar o povo da televisão e eu resolvi voltar pra plateia. Hora perfeita pra fazer novos amigos. Meu Deus, é o Will.I.Am!!!

EnganoEle chama Jorge Teodoro, tem 28 anos e é designer radicado no Rio de Janeiro.
VICE: Oi! Por que você tá aqui?
Jorge Teodoro: Minha namorada é modelo, ela vai desfilar pra duas marcas. Vim do Rio pra ver ela.
Da hora. Como ela virou modelo plus size?
Ela foi ao Dia de Modelo [evento organizado pelo Blog Mulherão, da organizadora do FWPS Renata Poskus Vaz], se empolgou, fotografou muito bem... E como ela tava um pouco nessa onda de querer se auto afirmar, com a estima não muito boa, de querer se sentir mais bonita, eu estimulei. Até que ela acabou vindo parar aqui.
Legal. Você sempre foi fã das gordinhas?
[Risos] Sempre. Sempre fui fã de gordinha. É mais mulher, né? Tem mais lugar onde apertar. É o clichê, mas vale.
Sei. E com sua experiência de namorar uma modelo tamanho grande, me diz uma coisa: rola aquelas neuras tipo “amor, você tá me chamando de gorda?” "Mas amor, você é gorda"?
Ah, você tem um feeling de não falar esse tipo de coisa, até porque ninguém é perfeitinho. Até a menina que é totalmente fitness tem suas neuras. Então você pode ser a pessoa mais perfeita do mundo, um ator da Globo, mas você vai ter os seus problemas e as suas várias inseguranças.
Beleza. Valeu! 
Nossa, aquela mina tá comendo brigadeiro?!?!

Infelizmente, até chegar ela já tinha acabado o doce. Até comprei um novo depois pra tentar forjar a mesma cena, mas não a encontrei mais. Fiquei sem graça de dar pra alguém e passar por babaca, então comi. Cara Juliana Camargo, 25, jornalista do portal Brás na Web: você me deve um quindim. 
VICE: Oi. Você tá comendo brigadeiro na primeira fila. Não se sente culpada por isso?
Juliana: [Risos] Magina... Não, vai, eu tava falando pra ela [aponta pra amiga do lado] que depois eu vou me sentir culpada. Mas de boa. É que em dia de semana eu procuro não comer esse tipo de besteira, mas de final de semana... Não tem que me sentir culpada, né? Mas confesso que falei pra ela que ia me sentir culpada depois.
Não por isso. Tô falando da água na boca que vai dar nas gordinhas.
Ah, com certeza! É brigadeiro, né?
Pois é, uma sacanagem. Mas, enfim, hoje vale ser gordinha, né?
Pois é. Tem que entrar no espírito. [Risos]
O saco é que realmente o evento era voltado mais aos envolvidos no mercado plus size, então entre os "cerca de dois mil convidados" aguardados pela organização a maioria era de gente dessa laia e formadores de opinião vulgos jornalistas. Ah, também tinha os blogueiros. Por isso eu tava quase deixando a conversa com a Giovanna pra trás, quando ela me disse que jogava futebol americano. Aí sim! Sabia que tinha mais por baixo daquele porte que ela habitava.  

Giovanna Baria, 25, repórter do blog Sou Diva e terror de Tom Bradys.
VICE: Mas você é plus size porque joga futebol americano ou joga futebol americano porque é plus size?
Giovanna: Na verdade é assim: eu jogo futebol americano porque sempre gostei de esportes de contato e esse tipo de coisa. Só que o futebol americano é o único esporte em que ser plus size te ajuda, em que ser plus size na verdade é uma coisa boa. Porque você precisa de meninas maiores pra aguentar a porrada que as menores não conseguem. Então é um esporte que abrange todos os tipos físicos, mas quem é gordinha, principalmente, se sente muito bem em jogar, porque você é necessária. 
Há quanto tempo você joga? E em qual posição você atua?
Há cinco anos. Eu já passei por alguns times, mas hoje jogo pelo São Paulo Pirates, que fundei junto com outra amiga minha plus size. E eu jogo na linha defensiva e na linha ofensiva. Aquela pessoa que defende o quarterback ou que tenta pegar o quarterback do outro time. 
Olha só. Legal. 
Até que achei esses dois. Podia apostar que eles estavam lá por fetiche.

Alex Félix, 26, e José Vieira, 27. Eles não namoram entre si (um deles até tem uma mina mais "cheinha"), são apenas dois sócios de duas confecções. Uma delas voltada pro mercado plus size, a BelCake.
VICE: Por que você estão aqui?
Alex:
Pra conhecer o mercado. A gente tá entrando forte nesse ramo.
José: A gente é formado em administração, então fizemos uma análise. Hoje em dia ninguém quer cozinhar, tá todo mundo comendo fora. Então a tendência é engordar, e engordando...
Vocês ficam ricos!
Alex:
Ainda não, mas se Deus quiser!
E por que esse nome BelCake?
José:
O Bel vem de bela, e o cake é um doce, um pouco mais feminino, né? Que essa marca é voltada pro público feminino. 
Isso ou porque cake é bolo e gorda adora comer bolo?
Alex:
[Risos] Não, então. É uma boa ideia, mas essa marca não é só plus, tá? Tem moda normal também.
José: A gente podia servir uns lanchinhos pra quem for pra loja! [Risos]
Haha. Abraço. Vou pedir pro Matheus vir tirar uma foto. 
Aí a luz começou a ficar mais colorida, as músicas mais pra cima ("Pretty Woman", "Man! I Feel Like a Woman!" etc.) e eu desconfiei que o desfile ia começar. Eram lá pras 16h, e, de acordo com o line-up, a primeira marca a subir à passarela era a Lunender. Segundo o release, estamos falando de nada mais que "uma das mais conceituadas confecçoes do país", que iria apresentar a linha "Mais Mulher", com vários temas que atendem manequins 44 ao 54. 
E esses vários temas foram apostas em "florais, rendas, borboletas e pérolas", "elegância rústica em peças clássicas com toques de peles, botões e fivelas, bordados étnicos e cores terrosas" e na "praticidade moderna inspirada nos anos 60 com formas minimalistas, linhas retas, estampas gráficas e em 3D, além de muito preto & branco". E mais uns "tons vivos  como cenoura, anis e verde lagarta", "ao lado de tons terrosos, cinzas, vermelhos, cremes, branco e preto [de novo ?]". Tudo em "shapes" desenvolvidos especialmente "pra valorizar as curvas femininas com muito charme e tecidos perfeitos para realçar a beleza de toda mulher".
Se a coleção também tivesse abordado a Era Cenozóica, praticamente toda a história do planeta Terra e as nuances de espectros de luz estariam resumidos naquelas peças. Uma pena.
Mas aí um cara começou a entrar na passarela entre uma menina e outra, fazendo charminho, apalpando as menininhas... E cacete, ele era galã! Transaria ele gordas?
Nada. A namorada dele tava lá também, e inclusive foi Miss São Paulo 2007. 

Samir Goulart, 29, modelo, galã e bonitão. E ator. 
VICE: O que foi aquilo?
Samir: Eu tive o convite da agência pra fazer esse desfile no evento Plus Size. A ideia era fazer tipo um teatrinho, passar pras pessoas aquele negócio assim de que plus size é gostosa, que os homens sentem tesão por elas. Que elas são desejadas, entendeu? De falarem "nossa, aquela menina tá pegando aquele cara!". E acho que deu certo, arrancou uns suspiros. Acho que a galera gostou. 
Mas você curte uma gordinha?
Bom... Eu tenho um perfil de mulher, tá? Um estilo. Desde que sou adolescente. Mas não é nem questão de gosto. Acho que se a pessoa, sendo gordinha ou não, é feliz, então é o que vale. O importante é ela ser feliz do jeito que ela é. Eu tava até no camarim e pude ver a alegria que elas têm de estar no backstage, de ser maquiada, de fazer o cabelo... O que eu pude perceber durante minha carreira de modelo é que cada um é meio que por si. Tem seus amigos, mas cada um é por si. E elas aqui não, elas se cumprimentam, “oi tudo bem? Você tá linda, tá gostosa, tá sexy”. Me senti orgulhoso de poder estar junto com as meninas, de certa forma fazendo um personagem de um galã, né, que é uma celebridade... Mas o importante não era isso  de ser a celebridade , e sim engrandecer o evento delas. Por isso fiquei feliz pelo convite e espero que outros tenham gostado. 
OK. Obrigado. 
Bom, depois desse ainda rolaram mais uns desfiles  já se passaram algumas horas, só pra contextualizar , a Solange Couto parece não ter gostado muito do fato de eu ter tentado engatar uma pergunta que relacionaria o programa do Chacrinha [afinal ela foi mulata do Sargentelli, idiota] e o tal bordão d'O Clone ("Eu não falo isso, quem falava era a Jura. Nunca falei isso na minha vida"), então resolvi ir embora. 

Ela é bem expressiva.

Só que a fila pra sair tava meio grande, mais pela dessincronização dos sobe e desce dos elevadores que pelo zelo à segurança em atender a capacidade máxima de carga dos ascensores – no caso, 13 pessoas ou 1260kg. O que acabou tornando inevitável a oportunidade de conhecer mais a Isis. Entre as opiniões dela sobre os desfiles e sua epopeia em encontrar roupas que se ajustem ao seu corpo, acabei descobrindo que ela também vende produtos eróticos. 

Isis Manoel, 28, cabeleireira, vendedora (de roupas plus size também) e consolada. 
VICE: Mas você vende em lojas ou o quê?
Isis: Eu faço visitas, vou com a malinha. Tipo vendedora da Avon. 
Existe produto erótico plus size? 
Produto erótico plus size? Bom, depende. [Risos] Depende do que você tá pensando, né? Mas, assim, eu não achei ainda, por exemplo, calcinha comestível plus size. Só que como é uma gelatina que você umidifica pra colar no corpo, elas têm um tamanho G que até dá pra dar uma esticadinha na gordinha. E fica sexy do mesmo jeito. 
Cacete. Mas haja calcinha pra gordo comer, hein?
[Risos] É que como a maioria das coisas etóricas são comestíveis, então não tem muito disso de mais pra gordinho. Mas é uma coisa que pode ser criada...
Dica milionária à parte (imagina no sabor quindim?), nos despedimos e cada um tomou seu rumo. O dela foi ir comer. 

~Óóóóuhnnn~ Que fofinha...

Nota: o fotógrafo não pode ir ao segundo dia de evento, então as fotos a seguir são todas minhas. 
Dessa vez cheguei lá pelas 15h, almoçado e tudo. De novo, fui direto pro camarim. O primeiro desfile do dia ia ser o da grife Kauê masculino, aquele pro qual eu tinha ido umas semanas antes acompanhar o casting [lembra desse dia?]

Tem quem goste, e de jeitos diferentes. 
Opa, vê só se não é o Sley! 

Sley Hang Loose
VICE: E aí, Sley, beleza?
Sley: Beleza, Bruno! Gostei da matéria lá, viu? Valeu por dar uma força aí!
Magina. Tá nervoso?
Mais ou menos. Aqui no camarim dá até uma adrenalina, por causa da pressão e troca de roupas. Mas acho que na passarela vai ser tranquilo...
Boa. Treinou a cara de Zoolander, afinal?
Que nada! Vou o mais natural possível. E agora também o pessoal me chama de sorriso. [Risos]
Boa sorte aí, cara.
Ih, alá o Michel também. 

LIKE A BOWSER!
Michel: Aquela foto lá que vocês tiraram aquele dia virou nosso papel de parede do computador, cara. Brigadão aí! 
De nada. Vou avisar o Matheus. 
Ao todo, nove homens iam desfilar em dez entradas pela marca, que subiria ao tablado a coleção "Hi Five – Os Cinco Sentidos: o sensorial ganha espaço, trazendo aconchego, sensação de proteção e o estímulo dos cinco sentidos, que afloram vibrantes". O destaque estava na "textura de materiais usados – tecidos com toques diferenciados, como tweed, lã, couro, trama bouclet, tricô e malha mescla. Cores invernais – como os 'falso blacks' (?), vinho e verde-escuro". 

Oito Homens e Nenhum Segredo já com seus devidos looks pro desfile. 
O nono elemento foi o Léo Jaime, que abriu e fechou aquela passeata. Aliás, informações das internas me fizeram saber que, pelo que parece, ele foi selecionado entre opções que incluíam até o João Gordo. É porque o objetivo era dar ares mais joviais pra coleção. 

Léo Jaime. 
Em seguida vieram à passarela vestidos de festa, artigos de couro, viscolycra, saias em ponto roma, cardigans... 

Lingeries por Ness Lingerie.

Escrever um livro, ter um filho ou plantar a árvore -- qual vai ser a ordem, então?
Lingeries...

Desfile X Size.
E, pra encerrar, chapéus cônicos. Chapéus cônicos?!

Fausto Bessa, criador da TNG e hoje responsável pela X Size. Fã de tatuagens. 
VICE: Qual o lance dos chapéus, Fausto?
Fausto: 
É um negócio futurista, entendeu? A nossa coleção é pra gordinha se assumir. Ela não se assume ainda, então a gente pretende que no futuro ela se assuma. Ainda faltou uns braceletes futuristas que a gente ia fazer, mas não deu tempo porque nós fechamos com o evento faz uma semana, entendeu? Mas é isso aí, de você imaginar que no futuro elas vão se aceitar. 
Mas qual o maior desafio pra criar roupas pra gordas?
O maior desafio é esse, ela se assumir. “Sou gordinha, sou gostosa e quero ser assim, acabou!” Obviamente tem algumas coisas que você tem que fechar um pouco ali, aumentar aqui – pra não mostrar tudo --, mas o grande forte das gordinhas é o colo do peito. Então a gente exagera um pouco aí. Mas cara, eu to querendo lançar um negócio pra que ela se assuma mesmo. “Mas tá aparecendo!”. Deixa aparecer! Porque ela nua todo mundo vai ver tudo. É igual quem faz tatuagem escondida pra mostrar. Eu por exemplo me tatuo pra mim, não pros outros. E eu acho que o mundo tá assim hoje, as pessoas querendo se abrir. Botar pra fora aqueles fetiches. 
E você pretende também fazer roupas pra homens?
Não quero mexer com masculino. Como eu tive outro dia falando com o Ratinho, que foi lá na minha casa, ele disse que ele só compra roupa lá fora, entendeu? É um mercado, mas como trabalhei muitos anos com masculino na TNG, por enquanto não pretendo voltar a mexer com alfaiataria, camisa e tal. Eu to gostando da modinha. 
OK. Falow.
No caminho de volta, encontrei a Mayara. 

Mayara Russi, a Ana Paula Arósio plus size.
VICE: Oi! Você desfilou bastante, pelo que percebi. Mas e agora, tem festinha de encerramento?
Mayara:
É, eu desfilei por oito marcas. Mas, assim, festa de encerramento pro pessoal do desfile não tem, não. O que acontece é das meninas mais conhecidas se reunírem pra fazer alguma coisa. Como eu tenho uma pizzaria, provavelmente a gente vai pra lá.
Dá pra ganhar as calorias que perdeu nesses dois dias!
[Risos] Já ganha já!
E foi mais ou menos isso o que aconteceu por lá. Pra encerrar, o show da banda Projeto 19, que irá apresentar hits das cantoras Donna Summer e... Adele. Em versão rock'n'roll.
Vazei!

Nenhum comentário:

Postar um comentário